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Efeitos palhaço-colaterais

  • novetresfoco
  • Sep 26, 2016
  • 2 min read

“Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”, é o que dizem as bulas das medicações convencionais. Estávamos com a Cia Sapato Velho no local das contraindicações, das restrições médicas, do silêncio e, sobretudo, do respeito à dor do outro. Esta foi a primeira lição valiosa que o Palhaço Tatuí me ensinou. “Para estar dentro de um hospital não basta amor, é necessário preparação.” Juntamente e cantarolando de forma doce tudo e qualquer coisa, a simpatia da palhaça Couve Flor lembrou mais flor do que vegetal. Os artistas, que vieram do Rio de Janeiro, chegam a visitar quatro hospitais diferentes por semana na capital carioca.


Seguimos nos corredores do Hospital Monsenhor Horta atrás dos palhaços. De quarto em quarto eles pediam para entrar, sempre com muito charme. Falavam da produção do Circovolante para os pacientes, dando a entender que estavam sendo perseguidos por nós. Entramos na brincadeira e passamos de fato a andar atrás dos dois, feito sombras. “Não sabemos quem eles são, mas eles são legais. Eles podem entrar também?” Nos corredores, funcionários que passavam recebiam um “bom dia” cheio de carinho, canções e afagos dos palhaços.


Ao entrar nos quartos, muito cuidado e respeito, afinal, você está entrando no mundo do outro. “Só podemos usar o que eles nos dão”, lembrou Tatuí. Descobri desta forma, que ser palhaço no hospital também é coisa séria, requer muita responsabilidade e zelo. Ao mesmo tempo, o mundo do outro também faz parte do artista. A produção foi chamada para entrar em uma das salas às pressas, era coisa urgente, não dava pra esperar! Chegamos esbaforidos, confesso: até me preocupei, à princípio. Então eles nos convidaram para cantar parabéns a uma das pacientes. Cantei; quase chorei.


E parece que a vida te retribuí com presentes bonitos demais quando você, generosamente, se dispõe de corpo e alma a ser palhaço. Eis que em um dos quartos uma alma artística surge. “Ele ficou eufórico quando soube que havia um palhaço no Hospital”, disse a mãe do rapaz, que apesar de adulto, tinha urgência em ser criança, mágico, desenhista e o que mais pudesse ser naquele instante. Recolheu com um copo plástico algumas moedas, não sabíamos de início o que pretendia. Ele coloca o copo com moedas no chão e improvisa uma mágica com os palhaços! “TCHARAAAAAAAANN\!”. Todos aplaudem! Mas não era um aplauso de apoio, e sim de comoção, espetáculo. Saímos todos emocionados. Meu coração pulsava forte, efeito colateral de ser sombra de palhaços.


Cia Sapato Velho (RJ) - "Intervenções Lúdicas"

24 de setembro de 2016 - Hospital Monsenhor Horta, Mariana - MG


Texto: Janaína Oliveira

Foto: Débora Mendes

Revisão: Duda Carvalho

 
 
 

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